sexta-feira, 7 de maio de 2010

SOLESMES E O LEGADO DO GREGORIANO


       Mencionar Solesmes é dizer “o” gregoriano, canto católico-romano por excelência nos ofícios litúrgicos. Foi neste austero mosteiro francês, 250 km a sudoeste de Paris, a meio caminho entre Le Mans e Angers, que o gregoriano renasceu no século XIX, após centenas de anos de esquecimento.
       Solesmes assinala este ano dez séculos de vida. Mais de mil anos decorreram desde que Raoul de Beaumont, visconde de Maine, cedeu ao irmão Geoffroy o terreno sobre o qual se ergueu a o conjunto, de acordo com a vontade do próprio Raoul. Em 12 de Outubro de 1010 foi dedicada da igreja de São Pedro, nome que ainda hoje designa a abadia.
       Nos dois primeiros séculos os monges viveram na prosperidade, até que em 1375 começou o declínio devido à Guerra dos Cem Anos. A abadia foi depois destruída pelos invasores ingleses, em 1425. A generosidade dos benfeitores apoiou o zelo de vários priores, que depois da reconstrução desenvolveram a comunidade. O crescimento económico e a renovação artística acompanharam uma reforma espiritual e disciplinar.

       A época moderna é marcada pelo domínio do rei de França, que passa a dispor do priorado de Solesmes e da abadia. Privados dos seus superiores regulares, os religiosos enfrentam uma vida cada vez mais precária, com cada vez menos religiosos e o desvanecimento do fervor espiritual.
A 13 de Fevereiro de 1790, a Constituição proibia os votos religiosos. No início do ano seguinte, a lei obriga os monges a dispersar. Dos sete padres apenas um se retira para a diocese de origem. Os outros resistiram e ficaram na abadia, mas não por muito tempo: as autoridades prenderam alguns religiosos e mais tarde deportaram-nos, embora não tivessem conseguido deitar a mão a todos. As instalações foram vendidas pelo Estado mas os compradores nunca chegaram a aparecer.
Em 1831, perante a iminente demolição da abadia, o P. Prosper Guéranger decide ocupá-la para nela retomar a vida beneditina. Ajudado por alguns amigos e encorajado pelo seu bispo, instala-se em Solesmes, com três companheiros, no dia 11 de Julho de 1833.



    A princípio, os meios eram humildes e os prognósticos nada favoráveis: o edifício estava deteriorado e a comunidade, dirigida pelo P. Guéranger, então com 28 anos, não tinha dinheiro nem brilho para atrair vocações e sobretudo não possuía experiência monástica.
       As dificuldades foram sendo vencidas com a ajuda de benfeitores e após quatro anos o superior desloca-se a Roma. A comunidade recebe a aprovação da Santa Sé, que a reconhece como autenticamente beneditina.
       A restauração da tradição monástica é apoiada pelo gregoriano: em pouco tempo, D. Guéranger reúne uma preciosa colecção de manuscritos de diversas abadias da Europa, que hoje formam a colecção de Solesmes, estudada por investigadores de todo o mundo.
    A prática do canto começou numa modalidade muito estreita: Guéranger pedia aos seus confrades que respeitassem o primado do texto e insistia na pronúncia e na inteligibilidade das palavras.



O esforço foi reconhecido: o então núncio em Paris, Angelo Roncalli, esteve muitas vezes nas celas de Solesmes; quando foi eleito Papa – Paulo VI – nomeou o então abade Jean Prou para presidente de uma congregação do Concílio Vaticano II e escutou os seus conselhos relativos à reforma litúrgica.

Hoje, os monges de Solesmes – 60, mais seis noviços – continuam a editar um disco por ano, tradição ininterrupta desde 1958. O carisma beneditino da abadia reflecte-se também no estrangeiro: em 1961 abriu uma fundação monástica em Keur Moussa, diocese de Dakar, Senegal; em 1996 foi fundado um mosteiro na Lituânia; nas últimas semanas, o claustro de Nossa Senhora da Anunciação, em Oklahoma, Estados Unidos, foi elevado a abadia. Ao todo são 23 os mosteiros que têm como referência este espaço de fé e história na terra da laicidade.

Um comentário:

  1. Boa noite, Alex.
    Obrigado pelos posts e pelas referências aos documentos magisteriais, alguns dos quais desconhecia por completo. Estamos a tentar organizar o material necessário para a implementação do gregoriano na rotina semanal de uma qualquer paróquia de língua portuguesa.
    http://divinicultussanctitatem.blogspot.com
    Os melhores cumprimentos, e muito obrigado :)

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